sábado, novembro 18, 2006

Carta aberta

CARTA ABERTA AO SENHOR PRIMEIRO MINISTRO

Na minha qualidade cidadão fumador venho, através da presente carta aberta, expor o seguinte a Sua Excelência o Primeiro Ministro de Portugal, Eng. José Sócrates, o seguinte:

Senhor Primeiro Ministro,

Sou um cidadão português, com 42 anos de idade, formação superior, emprego estável e exerço funções públicas de carácter electivo ao serviço da comunidade a que pertenço. O meu cadastro criminal é inexistente por falta de referências e pago religiosamente os meus impostos directos e indirectos. Gosto do meu País e do Povo a que pertenço.

Toda a vida procurei ser um cidadão exemplar e até me convenci de que o era, e nessa pueril ilusão vivi a minha vida até ao dia de hoje.

Hoje, chocadíssimo, descobri que era um criminoso que há anos e anos ando a envenenar o meu semelhante e o planeta que habito. Não, Senhor Primeiro Ministro, não descobri que era um automóvel, um avião, um autocarro, um aparelho de ar condicionado, uma fábrica, uma casa, uma bica, uma saqueta de açúcar, ou outra coisa qualquer distinta da minha natureza humana.

Descobri que ser fumador – e fumo 40 cigarros por dia, daqueles fortes e portugueses –, ao ler atentamente alguns projectos legislativos, faz de mim um criminoso! Um criminoso a ser evitado, a ser proibido de frequentar o café do costume e o restaurante da esquina, a ser “carimbado”, notado e negativamente salientado.

É o que vai acontecer à custa da legislação que o seu governo vai fazer aprovar e pelo facto de eu ter decidido que não vou deixar de fumar.

Estou psicologicamente preparado para pagar as coimas, as multas e até para cumprir as penas de prisão que a minha decisão em persistir em fumar vão, inexoravelmente, sujar o meu alvíssimo registo criminal. Em fumar o mesmo e em fumar exactamente nos mesmos sítios que fumo até hoje.

No entanto, Senhor Primeiro Ministro, um criminoso “à séria” que V. Exa. vai condenar a ser, tem o direito de lhe exigir absoluta coerência no seu ofício de Torquemada, ou seja exijo-lhe que coloque o tabaco – na forma de cigarro, cigarrilha, charuto e em fiapos para cachimbo – no index dos produtos não comercializáveis.

V. Exa. deve impedir a laboração e mandar encerrar a Tabaqueira, proibir a venda de tabaco no território português e punir severamente a sua importação clandestina.

Sendo o tabaco um perigo para a saúde pública, merecedor de tanta legislação restritiva ao seu consumo, sendo os fumadores – em que eu me incluo –, cumulativamente, uns criminosos, uns inconscientes, uns irresponsáveis e uns doentes, nada justifica a manutenção de unidades de fabricação e de pontos de venda do dito maldito produto.

Já agora, Senhor Primeiro Ministro, sugiro-lhe que do ponto de vista criminal alargue a minha culpa. Escolha por onde continuar a legislar as proibições dos vários outros produtos viciantes que consumo com intensidade: café, chocolate e chá.

Senhor Primeiro Ministro não faça de mim um criminoso simples. Transforme-me numa verdadeira ameaça social. Não se limite a restringir os espaços de consumo e a possibilidade “porta-moedística” de acesso aos referidos vírus purulentos que contaminam e envenenam os seres humanos e o mundo. Seja coerente e proíba a sua fabricação e venda. Se começar não vai poder parar, desde os veículos às sulfatadas uvas....e quando chegar a sua hora – que fatalmente vai acontecer, mais cedo ou mais tarde do que a mim – morrerá com um higiénico e politicamente correcto sorriso estampado na sua face.

Um seu criado,

MNN

2 Comments:

Blogger nana said...

também me deu vontade de um cigarrinho, sim...

5:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu também já fumei, mas ainda guardo um isqueiro vermelho em forma de baton. Tenho pena de ter feito promessa, senão também dava uso ao dito isqueirinho. Estou de acordo e apoio a sua carta aberta ao sr.1º. Ministro.

9:20 da tarde  

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